A FALTA DE SURDOS NOS JORNAIS
- Ana Paula Brunatti
- 10 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de mai.
A invisibilidade de pessoas surdas no jornalismo brasileiro e os entraves comunicativos

A rotina de um jornal, tanto televisivo como impresso, é marcada pela velocidade de transmitir as notícias, mas com atenção aos mínimos detalhes. O dia a dia da redação, por exemplo, são telefonemas, barulho das teclas do computador, conversas e muita informação. Apesar do frenesi, muito comumente retratado em obras da sétima arte, o jornalista precisa de um olhar atento e extremamente crítico a certos detalhes, sendo o principal denunciador de mazelas sociais. Mas afinal, até onde este criticismo vai?
Grandes jornais televisivos possuem dinâmica estrutural por editorias, como exemplo política, economia, esportes, entretenimento, cidades, direitos humanos, inclusão, meio ambiente, internacional, entre outras, podendo variar de um jornal para outro. Em entrevista com a Repórter de rua, Adriana de Luca, que possui 15 anos de experiência no jornalismo, trabalhando atualmente na CNN, que tem esse modelo organizacional, quando questionada sobre pautas relacionadas a acessibilidade e inclusão, foi pontuado que não trabalha com esses tópicos por tratar os destaques do dia, sendo esses temas exclusivos da editoria de acessibilidade. Entretanto, apesar de possuir uma editoria exclusiva, a emissora não disponibiliza a Janela de Libras durante suas transmissões nos principais jornais.
De maneira ilustrativa, imagine que trabalha em um grande jornal. Segunda-feira de manhã, reunião de pauta, decidindo o que será abordado no dia: os principais destaques. Quando trabalhado com o factual, ou seja, com pautas quentes e recentes, existe uma escala de prioridade, de acordo com o ambiente de trabalho. Além disso, Adriana admite nunca ter feito uma entrevista ou abordagem com alguma pessoa surda e não estar preparada para tal situação:
“Precisaria estudar o básico para isso” .
No Decreto Nº 5.626 de 2005, no capítulo II, é colocada a obrigatoriedade da Libras como optativa para todos os cursos de educação superior. Ao repensar a carreira de 15 anos de Adriana, este decreto já estava em vigor em seu período de formação, mostrando um conflito no sentido de interesse por parte dos profissionais.
Em outro contexto, Adriana pontua que em seu local de trabalho, as notícias são tratadas de acordo com o grau de importância pública:
“a relevância, qual o assunto é mais relevante para o nosso público”
Sendo essa a postura adotada por diversos jornais televisivos, onde pautas de acessibilidade possuem menos destaque devido ao baixo engajamento populacional com tais temas.
A preocupação vigente sobre a preparação do jornalista para temas de acessibilidade, reflete um mercado que não busca de maneira efetiva abordar pessoas surdas como cidadão que merecem devida atenção e que devem se posicionar em pautas cotidianas, sendo a exclusão desse público uma confirmação de que a comunicação ainda precisa evoluir muito, em diversos aspectos, para alcançar a inclusão que promove.
Comments