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CONFLITOS MERCADOLÓGICOS PARA FORMAÇÃO INCLUSIVA

  • Foto do escritor: Ana Paula Brunatti
    Ana Paula Brunatti
  • 10 de mai.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 12 de mai.

As causas e consequências da falta de implementação da Libras desde a formação do comunicador


O mercado e a influência na formação do jornalista| Foto de Sam McGhee na Unsplash
O mercado e a influência na formação do jornalista| Foto de Sam McGhee na Unsplash

O IBGE afirma que atualmente cerca de 2,7 milhões de brasileiros são surdos, vivendo em silêncio absoluto. Além de todas as adversidades que esses cidadãos enfrentam, entraves na comunicação televisiva demonstram que o mercado define que tais pessoas não “merecem” ter acesso a informação de maneira plena, ferindo decretos e constituições em favor da acessibilidade, devido a falta de interesse e cobrança pública em favor dessa parcela populacional.


A invisibilidade surda no país é um tema recorrente e que mostrou respectivas mudanças em certas visões capacitistas, especialmente dentro das instituições de ensino e de mídia, com núcleos de acessibilidade e editorias voltadas a temas de deficiências. Entretanto, tais alterações no pensamento e na visão do papel do surdo em sociedade ainda não promoveram grandes mudanças no sentido de inclusão plena em todos os meios. A jovem Mariana Rangel, é um exemplo vivo das consequências a respeito da negligência de inclusão comunicativa no meio educacional.  Ela relata um crescimento solitário pela exclusão dentro da escola por ser surda, afinal não foi oralizada na Língua Portuguesa e só foi compreender coisas como os alimentos e os números no relógio aos 16 anos, com a intervenção correta da intérprete. Inclusive é ela que continua acompanhando seu desenvolvimento na escola e no esporte. Mas por tantos anos, Mariana não era vista:

´´Ninguém quer me conhecer sendo surda``.

Além disso, a jovem nunca havia sido entrevista antes e acompanhava as notícias apenas através da Janela de Libras. 

Isso não acontece de forma isolada, quando o assunto é inclusão a mídia não está preparada para tal cobertura. Em 2021, por exemplo, ocorreu em Caxias do Sul a Surdolimpíada, na qual atletas surdos de diversos países competem por diversas modalidades. O jornal Nacional fez a cobertura sobre o evento com uma reportagem, aonde os atletas eram entrevistados junto com os seus respectivos intérpretes. A matéria abordou o motivo pelo qual não fazem parte da paraolimpíadas (por não ter dificuldades motoras) e as alterações feitas nas modalidades para se comunicar com os atletas.  Entretanto, apesar do intuito da reportagem ser de visibilização e conscientização, os milhares de brasileiros surdos que não são alfabetizados na língua portuguesa foram privados de tais informações de tamanha relevância para a comunidade surda pois o Jornal Nacional não disponibiliza janela de Libras, sendo neste caso um exemplo na qual o surdo é pautado em uma matéria, possui reconhecimento da necessidade da acessibilidade, mas a mídia fecha os olhos para essa responsabilidade. 

Apesar de tal recurso visual ser necessário para compreensão efetiva dos telespectadores, apenas veículos públicos aplicam de maneira efetiva. Tal situação, assim como a história de Mariana, refletem o surdo apresentado nas mídias apenas em pautas de deficiência e ainda não terem acesso a tais informações pois as emissoras não disponibilizam a tradução para a Língua de Sinais.

Em entrevista a repórter da CNN, Adriana de Luca, que exerce a profissão há 15 anos, afirma nunca ter entrevistado uma pessoa surda, por tratar apenas das principais notícias do dia, aonde pautas de acessibilidade estão em uma editoria própria. Ou seja, a  CNN possui editoria de acessibilidade mas não implementa a janela de Libras nas transmissões dos principais jornais. Isso é justificado, na visão de Rita Donato, coordenadora do curso de jornalismo da faculdade Paulus de Comunicação, como uma questão de falta de interesse na obrigatoriedade na iniciativa privada:

“Nas TVs públicas nós temos a questão da obrigatoriedade, porque quem decide não é uma iniciativa privada”.

Ainda, quando Rita é questionada a respeito do interesse dos alunos pela fluência em Libras e o compromisso da faculdade com essa implementação efetiva, a jornalista pontua que essa questão está relacionada com o senso de importância da acessibilidade plena nas instituições:

“Mas, na verdade, ele transborda a questão da obrigatoriedade e caminha para uma responsabilidade mesmo, sabe?”. 

A respeito da obrigatoriedade, em 2005, foi colocado em vigor a lei da obrigatoriedade de oferta da Libras como optativa para todos os cursos de ensino superior. Entretanto, profissionais como Adriana demonstram que tais temas passaram a ser vistos com importância pelos profissionais recentemente, pois em seu período de início na profissão, por volta de 2010, a lei já estava sendo aplicada, mas a falta de interesse era vista tanto pelo mercado como pelos alunos:

“além de temas como acessibilidade não serem pautados dentro da instituição e entre os alunos em 2005 (...) Parece que o mercado não está muito interessado nisso. E quem determina é o mercado” , reflete Rita Donato.

Apesar da forte influência do mercado ser um entrave para a presença efetiva de pessoas surdas em todo e qualquer tipo de pauta, com todos os telespectadores tendo total compreensão das matérias com o uso de tecnologias assistivas para isso, como a janela de Libras e o Closed Caption, é nítido uma mudança de pensamento a respeito do movimento surdo dentro das instituições de ensino, onde Rita reflete seu período de formação com os jovens jornalistas de hoje:

Mas por que em 2005 a gente nem falava disso? Então, acho que tem um movimento de mudanças (...) Então a gente caminha para uma evolução na sociedade. Como jornalistas como você, por exemplo, que em 2005 não era nem nascida e hoje está me dando uma aula sobre a preocupação da necessidade de ter pessoas formadas com o idioma, com a linguagem, a língua de sinais.”  

Além da mudança para a postura do profissional da comunicação, também a importância da comunicação na vida de jovens como Mariana, que relata que após a Lingua de Sinais, passou a ter relações interpessoais com colegas de sala, professores e atletas, mobilizando movimentos em favor da Libras em todos os locais que frequenta, além de visíveis mudanças em seu comportamento,  sendo uma garota mais alegre, educada e confiante, abrindo os olhos para um mundo cheio de possibilidades e inclusão para pessoas surdas. 

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